Skinner
Skinner é o mais famoso psicólogo defensor da hipótese behaviorista. Um dos seus principais preceitos, e de seus seguidores, é que o aprendizado se dá através de um processo denominado condicionamento operante. As mudanças no comportamento voluntário são resultados de eventos que seguem esse comportamento. Por um lado, existem eventos que estimulam a recorrência do comportamento que são chamados de reforço, por outro lado existem eventos que fazem o contrário, diminuem a probabilidade de recorrência, chamados de punição.
Um bom exemplo é dado por Sharon James em "Normal Language Aquisition" (1990 in HINZ, 1999). Uma criança fala mama e sua mãe feliz em escutar aquilo, pega-a no colo, dando muitos beijos e abraços. Essa atitude é agradável para criança e aumenta a probabilidade dela repetir a fala. Isso é o que chamamos de reforço. Por outro lado, se a criança diz mama quando sua mãe não está por perto, ele não obterá nenhuma resposta da mãe e compreenderá que mama refere-se a apenas aquela pessoa em específico. Desse modo, aprende a se comportar dessa forma na presença de um estímulo particular (a mãe), fazendo a associação do referente (mãe) com o padrão de sons (mama).
Mas não são apenas os padrões de estímulo que chamam a atenção dos behavioristas. A imitação também exerce uma função importante na aquisição de linguagem pela criança. O padrão de imitação segue um princípio fixo: o adulto fala uma palavra, a criança imita essa produção e o adulto recompensa a criança por essa repetição, mesmo que ela não seja fiel ao que foi dito inicialmente. Com o passar do tempo, a criança passa a falar mais parecido com o adulto, aprendendo como combinar as palavras da mesma maneira que aprendeu a reproduzi-las, através de imitação e posterior aproximação ao modelo adulto.
A crítica a essa visão é que os behavioristas tendem a enfatizar a influência do meio e ver a criança com um receptor passivo da linguagem, desprezando o seu papel no processo de aprendizagem. Não explicam o fato das crianças produzirem construções que nunca foram ouvidas por elas anteriormente, assim como o fato da aquisição dos padrões gramaticais, já que as construções agramaticais nem sempre são corrigidas pelos pais e as gramaticais elogiadas, não podendo, assim, serem explicadas pelo reforço paterno.
Chomsky
Segundo Pinker (2002, p.14), "no século 20, a tese mais famosa de que a linguagem é como um instinto foi elaborado por Noam Chomsky, o primeiro lingüista a revelar a complexidade do sistema e talvez o maior responsável pela moderna revolução na ciência cognitiva e na ciência da linguagem." Antes, as ciências sociais eram dominadas pelo behaviorismo, a escola de Watson e Skinner, que não estudavam os processos mentais e rejeitavam a existência de idéias inatas.
Chomsky chamou atenção para dois fatos fundamentais sobre a linguagem. Em primeiro lugar, cada frase dita ou ouvida é uma nova combinação de palavras, que aparece pela primeira vez na história do universo. Por isso, uma língua não pode ser um repertório de respostas, o cérebro deve conter alguma receita ou programa que consiga construir um número infinito de frases a partir de uma lista finita de palavras. A esse programa damos o nome de Gramática Universal (GU).
Segundo Chomsky (1959,1987 in STENBERG, 2000), um cientista marciano observando crianças numa comunidade de linguagem única concluiria que a linguagem é quase completamente inata. Isso nós leva ao segundo fato observado por Chomsky, o ritmo que as crianças adquirem palavras e gramática sem serem ensinadas é extraordinariamente rápido para ser explicado apenas pelos princípios da aprendizagem, o que ele chama de "pobreza de estímulo". As crianças criam tipos diferentes de frases, que nunca ouviram antes, e por isso mesmo não podem estar imitando. Além disso, muitos dos erros cometidos por crianças pequenas resultam do excesso de generalização (superextensão) das regras gramaticais lógicas.
Para resolver esse problema, Chomsky (1957, 1965 in SCARPA, 2000, p.209) postula "a existência de uma série de regras gramaticais, mais um procedimento de avaliação e descoberta, presentes no Dispositivo de Aquisição de Linguagem (LAD); ao confrontá-la com o input, a criança escolhe as regras que supostamente variam parte de sua língua."
Num segundo momento, Chomsky introduziu a chamada Teoria de Princípio e Parâmetros, onde ele retoma o problema da "pobreza dos estímulos" com uma atitude platonista ante a linguagem. Chomsky transfere o problema de Platão (como é que o ser humano pode saber tanto diante de evidências tão passageiras, enganosas e fragmentárias?) para a linguagem. Desse modo, vincula a linguagem aos mecanismos inatos da espécie humana; surge a idéia dos universais lingüísticos. De acordo com essa visão, o homem vem equipado, no estágio inicial, com uma Gramática Universal (GU), dotada de princípios universais pertencentes à faculdade da linguagem e de parâmetros não-marcados que adquirem seu valor no contacto com a língua materna. Alguns dos parâmetros que têm sido estudados são: se a língua aceita sujeito nulo ou preenchido, se o objeto é nulo ou preenchido, o tipo de flexão ou estrutura do verbo etc. (SCARPA, 2000)
Dessa forma, Chomsky (1980 in WOOD, 1996) nos conduz à concepção da capacidade de aquisição da linguagem quase como um "órgão mental". "Os sons de fala que estimulam os nervos auditivos são 'processados' naturalmente de modo a revelar (a acerta altura) as regras pelas quais aquela fala se estrutura." (WOOD, 1996, p. 165) Assim, apesar das várias línguas serem aparentemente diferentes quanto a sintaxe e a fonética, Chomsky acredita que todas sigam certas propriedades universais, para cuja produção e aquisição desenvolveu-se evolutivamente num sistema congênito (DAL).
Uma outra decorrência do inatismo lingüístico é a modularidade cognitiva da aquisição da linguagem. Dessa forma, a relação entre a língua e outros sistemas cognitivos como a percepção, a memória e a inteligência, é indireta, ou seja, a aquisição da linguagem não depende dele e nem de nenhuma interação social.
Jean Piaget
Epistemólogo suíço, Jean Piaget foi responsável pela criação do cognitivismo construtivista ou epigenético. Segundo ele, a aquisição da linguagem depende do desenvolvimento da inteligência na criança e se dá na superação do estágio sensório-motor, por volta dos 18 meses. "Nesse estágio de desenvolvimento cognitivo, numa espécie de 'revolução coperniciana', usando as palavras do próprio Piaget (1979), dá-se o desenvolvimento da função simbólica, por meio da qual um significante (ou um sinal) pode representar um objeto significado, além do desenvolvimento da representação, pela qual a experiência pode ser armazenada e recuperada". (SCARPA, 2001, p.210) Essas funções juntam-se a outros três processos na superação do que Piaget chama de "egocentrismo radical", presente no período sensório-motor, segundo o qual não existe uma diferenciação entre sujeito e objeto, a ponto do sujeito não se reconhecer nem mesmo como fonte de suas ações. Estes três processos são relacionados a seguir:
Por meio desses processos, torna-se possível o uso efetivo do símbolo e da representação de um sinal por outro, utilizando o princípio da arbitrariedade do símbolo. No campo da linguagem, o jogo simbólico, a imagem mental, as sucessivas coordenações entre as ações e entre estas e o sujeito, a possibilidade de internalizar e conceptualizar as ações passam a fazer parte de sua realidade.
Quando essas conquistas cognitivas se unem, o sujeito passa da inteligência sensória e motora a inteligência pré-operatória, e surge a possibilidade da adoção de símbolos públicos da comunidade ao invés dos seus significantes pessoais, ou seja, a linguagem torna-se possível, assim como outros processos da função simbólica geral, como desenhar. Através do desenvolvimento cognitivo gradativo a criança adquire cada vez mais a capacidade adulta em relação aos aspectos da linguagem.
Em oposição ao modelo inatista, a aquisição é vista como resultado da interação entre o ambiente e o organismo, através de assimilações e acomodações, responsáveis pelo desenvolvimento da inteligência em geral, e não como resultado do desencadear de módulo - ou um órgão - específico para a linguagem. Daí se diz que a visão de Piaget sobre a linguagem é não-modularista. Assim também, a visão behaviorista é rechaçada, com a crença de que as crianças não esperam passivamente que o conhecimento de qualquer espécie seja transmitido, mas constroem sue próprio conhecimento. (SCARPA, 2001)
As pesquisas de inspiração piagetiana foram desenvolvidas nas décadas de 1970 e 1980, época que também começaram a surgir às críticas ao seu trabalho. Elas se baseavam, principalmente, na ausência do aspecto social nas suas pesquisas.
Vygotsky
Psicólogo suíço, morreu prematuramente em 1934, mas a maior parte das traduções das suas obras para o francês e o inglês foram feitas a partir de 1960. No entanto, foi só nos anos 1970 que sua obra começou a exercer influência sobre os estudos de aquisição de linguagem. Representou uma alternativa ao construtivismo piagetiano, questionando o inativismo chomskiano. Explica o desenvolvimento da linguagem e do pensamento como tendo origens sociais externas. (SCARPA, 2001)
Para Vygotsky (1984 in SOUZA, 2001), o uso da linguagem é a condição mais importante para o desenvolvimento das estruturas psicológicas superiores (a consciência) da criança. A experiência histórica do homem, reflete-se nas formas verbais de sua comunicação. Esse conteúdo histórico também foi interiorizado por meio da linguagem, logo a natureza social das pessoas torna-se igualmente sua natureza psicológica.
Nesta visão, o mesmo aconteceria com a criança, o seu desenvolvimento cultural aconteceria primeiro em nível social e mais tarde em nível individual. Esse processo implicaria a utilização de signos e suporia uma evolução através de uma série de transformações qualitativas na consciência da criança. Assim, a consciência de cada criança retrataria a sua interação com a realidade.
O processo de internalização seria uma reconstrução interna de uma operação externa, mas diferente de Piaget, ressalta a importância da atividade do outro no processo, já que o sucesso deste depende da reação daquele. As transformações que ocorrem nesse processo são as seguintes:
Vygotsky considera que o significado da palavra é a chave de compreensão da relação pensamento e linguagem, logo, sendo também da consciência e da subjetividade. Desse modo, seria possível analisar as transformações semânticas da língua ao longo do desenvolvimento da criança.
Os trabalhos da linha vygotskina entendem que a criança é o sujeito no processo de aquisição da linguagem, construindo seu conhecimento de mundo com a ajuda do outro. Os trabalhos nessa linha são conhecidos com "interacionismo social".
Steven Pinker
Segundo Pinker (2002), a causa imediata de toda percepção, aprendizagem e comportamento é o cérebro humano. A aprendizagem não é uma alternativa ao inato; sem um mecanismo inato para aprender, ela simplesmente não ocorreria. Observe a Figura 2.3:
Figura 2.3: Influências recebidas pelo ser humano no processo de aprendizagem (PINKER, 2002)
Para ele, tanto a hereditariedade como o ambiente desempenham papéis importantes. Se uma criança cresce no Japão, ela irá falar japonês, mas se crescer no Estados Unidos, falará inglês. Portanto, sabemos que o ambiente desempenha um papel. Se uma criança cresce inseparável do seu hamster, a criança acaba falando uma língua, mas o hamster, exposto ao mesmo ambiente, não. Portanto, sabemos que a hereditariedade também tem o seu papel. Mas não é só isso:
Pinker
(2002) define um mentalês universal. Segundo ele, essa língua talvez
pareça um pouco com o português, o chinês ou o apache; é
provável que tenha símbolos para conceitos e arranjos de símbolos.
Deve ser mais rica em alguns sentidos, porque vários símbolos
conceituais devem corresponder a uma determinada palavra do idioma falado. Deve
haver uma parafernália extra para diferenciar tipos de conceitos logicamente
distintos como presas de Ralph versus presas em geral, e para ligar símbolos
diferentes que se referem a uma mesma coisa, como o o homem loiro alto com um
sapato preto e o homem. Por outro lado, o mentalês deve ser mais simples
que as línguas faladas; não existem palavras e construções
(como um e o) dependentes do contexto, e informação sobre a pronúncia
das palavras, e até mesmo sua ordem são desnecessárias.Talvez
os falantes do português pensem num quase-português simplificado
e comentado e os falantes do apache pensem num quase-apache. Mas para que essas
línguas do pensamento sirvam ao raciocínio de modo adequado, elas
teriam de se parecer muito mais umas com as outras do que seus equivalentes
falados, e tudo leva a crer que elas não sejam diferentes uma das outras.
Para Pinker, a universalidade da língua é a primeira razão para suspeitar que a linguagem não é apenas uma invenção cultural, mas o produto de um instinto humano específico. As invenções culturais variam muito de uma sociedade para outra em termos de sofisticação, mas a linguagem existe em todas elas. "Existem sociedades da Idade da Pedra, mas não existe uma língua da Idade da Pedra" (PINKER, 2002, p.21). A idéia da linguagem como um instinto foi concebida pela primeira vez em 1871 por Charles Darwin em "The Descent of Man" (PINKER, 2002, p.11-2):
Como... um dos fundadores da nobre ciência da filosofia observou, a linguagem é uma arte, como fermentar ou assar; mas a escrita teria sido uma comparação melhor. Ela decerto não é um verdadeiro instinto, pois toda língua tem de ser aprendida. Contudo difere muito de todas as artes comuns, pois o homem tem uma tendência instintiva a falar, como vemos no balbucio de nossos filhos pequenos; nenhuma criança, no entanto, tem uma tendência instintiva a fermentar, assar ou escrever. Além disso, nenhum filósofo supõe atualmente que alguma língua tenha sido deliberadamente inventada; desenvolveu-se lenta e inconscientemente etapa por etapa.
Apesar de ter sido influenciado por Chomsky, Pinker afirma que ele confundiu
muito seus leitores com seu ceticismo quanto à possibilidade da seleção
natural darwiniana (em contraposição a outros processos evolutivos)
poder explicar as origens do órgão da linguagem. Pinker considera
a linguagem como uma adaptação evolutiva, como o olho. Além
disso, para ele, as teses de Chomsky baseiam-se em análises técnicas
da estrutura das palavras e frases, muitas vezes expressas em "abstrusos
formalismos" e suas discussões sobre falantes de carne e osso são
superficiais e muito idealizadas. Pinker afirma que uma conclusão sobre
a mente só é conveniente se dados oriundos de muitas fontes convergirem
para ela.
Para saber mais:
Livros e publicações:
AIMARD, Paule. A Linguagem da criança. Porto Alegre: Artmed, 1986.
BATES, Elizabeth. On the nature and nurture of Language. Disponível em: <http://crl.ucsd.edu/~bates/ papers/pdf/bates-inpress.pdf>. Acessado em 01 jun. 2002.
CHOMSKY, Noam. Linguagem e mente. Brasília: Universidade de Brasília, 1998.
FARIA, Núbia Rabelo Bakker. Buscando os limites do dado na aquisição da linguagem. Disponível em <http://sw.npd.ufc.br/abralin/anais_con2nac_tema014.pdf>. Acessado em 18 ago. 2002.
FLAVELL, John H.; MILLER, Patricia H., MILLER, Scott A. Desenvolvimento Cognitivo. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 1999.
HINZ,
Anja. Children's Language Acquisition. Disponível em: <http://www.hausarbeiten.de/rd/archiv/
anglistik/angl-acq/angl-acq.shtml>. Acessado em 02 jun. 2002.
MULLER,
Ralph-Axel. Innateness, Autonomy, Universality? Neurobiological approaches
to Language. Disponível em: <http://www.bbsonline.org/documents/a/00/00/05/16/bbs00000516-00/bbs.mueller.html>.
Acessado em 02 jun. 2002.
PINKER, Steven. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
SCARPA, Ester Mirian. Aquisição da linguagem. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Ana Cristina. Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. v.2.
SOUZA,
Solange Jobim e. Infância e Linguagem: Baktin, Vygotsky e Benjamin.
6. ed. São Paulo: Papirus, 2001.
STENBERG, Robert J. Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2000.
STILLINGS, Neil A. Cognitive Science: an introduction. Cambridge: Massachusetts Institute of Technology, 1989.
WOOD, David. Como as crianças crescem e aprendem. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
Links:
http://www.marxists.org/reference/subject/philosophy/works/us/chomsky.htm
"Language and Mind - Linguistic Contributions to the Study of Mind (Future)" texto de Noam Chomsky (1968). A página é em inglês e possível links para páginas de outros pesquisadores, como Vygotsky, Locke, Saussure, Jakobson, Descartes.
http://monkeyfist.com/ChomskyArchive/
"Badnews: The Noam Chomsky Archive" Página em inglês com artigos, entrevistas, ensaios e outros materiais sobre Noam Chomsky.
"The Noam Chomsky Archive". Página em inglês com o textos na íntegra dos maiores trabalhos de Chomsky, audio completo de várias palestras e numeorosos artigos, entrevistas e palestras.
http://cognet.mit.edu/Books/chomsky/
Página em inglês da biografia eletrônica de Noam Chomsky escrita por Robert F. Barsky.
http://www.synaptic.bc.ca/ejournal/chomsky.htm
Página do "The eJournal website" com vasto material sobre Noam Chomsky.
http://www.personal.kent.edu/~pbohanbr/Webpage/New/newintro.html
"Chomsky for Philosophers". Página em inglês dos trabalhos de Chomsky com ênfase filosófica.
Página oficial,
em inglês, do professor Steven Pinker do Department of Brain and Cognitive
Sciences do Massachusetts Institute of Technology.
http://www.ibict.br/cionline/290300/index.htm
Site da Revista Ciência da Informação com os artigos publicados pela revista, inclusive "A lingüística e a ciência da informação: estudos de uma interseção" de Ercilia Severina Mendonça.
http://www.cvlnet.net/guia_de_sites/index.htm
Comunidade Virtual da Linguagem, guia de sites da área.
http://www.kolar.org/vygotsky/
Página com dados biográficos, vários trabalhos e links sobre Vygotsky.
http://webpages.charter.net/schmolze1/vygotsky/
Página com dados biográficos, vários trabalhos e links sobre Vygotsky.Além de links para outros autores realcionados.
http://members.tripod.com/lfcamara/mestres.html
"Grandes Mestre - Novas Idéias sobre a Educação: Alguns Educadores que influenciaram a Educação".