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Muito
além do giz e da lousa
Ferramentas tecnológicas invadem as escolas, mas
requerem bons professores para dar resultados
Fernando
Souza
 Alunos da 6ª
série do Santo Américo: aula no laboratório de robótica
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O processo
de aprendizado está em transformação: lápis e canetas perdem
espaço para teclados e mouses, enquanto livros e bibliotecas
ganham a concorrência da internet. Hoje, aulas são dadas sem
que o estudante precise fazer algo além de prestar atenção e,
ao final, salvar o conteúdo num disquete. A invasão dos
computadores nas salas de aula, entretanto, não significa
necessariamente um incremento na qualidade do ensino. "A
tecnologia é importante, mas não supre a carência pedagógica
de um professor despreparado", afirma Nelio Bizzo, da
Faculdade de Educação da USP e membro do Conselho Nacional de
Educação. Segundo o especialista, os recursos da informática
só amplificam o intelecto do aluno se forem explorados de
maneira estimulante.
"Sem boas
idéias, os equipamentos não têm serventia", diz Elenice Lobo,
coordenadora de ensino informatizado do Colégio Santo Américo.
Ali, centenas de crianças das novas gerações nem sabem o que é
estudar sem o uso da tecnologia. A escola, que tem 1 387
alunos, dispõe de 160 máquinas com processadores Pentium II e
III, todas conectadas à internet e distribuídas em oito salas,
que servem de ferramenta para diversas disciplinas. "No editor
de texto, o aluno pode fazer um jornal de época combinando
português, geografia e história", exemplifica Elenice. Na sala
de multimídia, cujos equipamentos valem 50 000 dólares, os
professores monitoram de seus computadores as ações dos
alunos. A classe acompanha as explicações numa lousa
eletrônica, na qual é projetada a interface do programa, ou no
monitor individual, que reproduz em tempo real os apontamentos
da aula. Ao final, basta salvar as informações no disquete.
Outra aplicação que o Santo Américo extrai da informática são
os projetos de robótica. A disciplina, optativa, é ministrada
a partir da 3ª série do ensino fundamental e emprega peças do
jogo Lego para a montagem de maquetes automatizadas. O aluno
Nikolas Lukin, de 14 anos, vive no laboratório. "Como pretendo
fazer mecatrônica, está sendo uma experiência e tanto", conta.
No Colégio
São Luís, desde a educação infantil, os alunos aprendem a
trabalhar com o Megalogo, o chamado software de "autoria".
Nessa linguagem, eles criam programas personalizados, como os
de conjugação de verbos e de estatística. "São recursos que,
somados aos de imagem, som e animação, tornam o ensino mais
analítico e interpretativo, e menos linear e cronológico", diz
a professora de história Eliane Person. Em casa, o estudante
da 7ª série Gustavo Amaral, de 13 anos, realiza consultas na
internet e digita seus trabalhos no Word. "Não consigo mais me
ver estudando sem o computador", garante.
Além de
laboratórios e verdadeiros centros de informática, alguns
colégios criaram salas-ambiente para todas as disciplinas. A
idéia é a seguinte: em vez de os professores mudarem de
classe, são os estudantes que se deslocam. Assim, os docentes
podem manter uma estante com livros para pesquisa, mapas,
infográficos e dicionários sobre a disciplina. "Com material
didático em mãos, posso tirar uma dúvida imprevista na hora,
sem deixar diminuir a curiosidade do aluno", diz a professora
de ciências Vera Lucia dos Anjos, da Escola Móbile, que adotou
o sistema. "São essas questões inesperadas que enriquecem a
aula." Claro que investir em equipamentos sofisticados custa
caro – e isso acaba refletindo no valor das mensalidades.
Nesse aspecto, o Colégio Humboldt é privilegiado. Graças à sua
característica bicultural, ele entrou no programa de subsídios
do governo alemão. Há dois anos, uma doação aparelhou os
laboratórios de física, química e biologia, das cadeiras à
mesa high tech do professor, que controla por meio de botões
as saídas elétricas e as de gás. Para cada dois laboratórios
(são doze, no total), há uma terceira sala de preparo, com uma
infinidade de equipamentos e produtos científicos vindos da
Alemanha. Os armários que acondicionam substâncias voláteis
possuem exaustor. As bancadas têm rodinhas e são revestidas de
cerâmica. Somente microscópios, existem 37. "Com esse material
nas mãos, podemos realizar tudo o que imaginamos", diz Renato
Coelho, professor de física.
FIQUE DE OLHO
É ótimo estudar em um
colégio com piscinas aquecidas, ginásios cobertos e
laboratórios de ciências e informática equipados com
microscópios e computadores de última geração. Mas não
deixe que isso se torne o fator decisivo na escolha. Em
educação, apesar de todas as inovações tecnológicas, o
mais importante ainda são as pessoas. A infra-estrutura
precisa estar a serviço da aprendizagem, e não servir
apenas como instrumento de marketing.
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