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Ótimas e pouco conhecidas
Centenária, alternativa ou recente, três escolas mostram que sucesso no ensino não depende de idade ou
estilo
Lívia de Almeida e Rubiana Peixoto
André Nazareth/Strana
 Aula de
música no Cruzeiro: colégio centenário foi criado para
atender à colônia alemã |
Que os santos do Rio continuam fortes não é surpresa.
Das dez escolas que encabeçam o ranking carioca, quatro são
católicas. Além do Colégio Santo Inácio, o primeiro colocado,
figuram entre as dez nomes bem conhecidos, como o Colégio São
Vicente de Paulo, no Cosme Velho, o São Bento, no Centro, e o
Santo Agostinho, no Leblon. A pesquisa Veja Rio-Ipsos
Marplan mostra que não apenas as grifes consagradas apresentam
um ensino de qualidade. Ao lado de outras instituições
bastante famosas, como o Liceu Franco-Brasileiro, o Colégio
Andrews e o Centro Educacional Anysio Teixeira (Ceat),
despontam nomes menos familiares para o carioca. O centenário
Colégio Cruzeiro, no Centro, a alternativa Escola Dinâmica de
Educação Moderna (Edem) e o jovem Colégio pH, ambos em
Botafogo, apresentam propostas pedagógicas as mais variadas.
Todas bem-sucedidas. A primeira dá ênfase ao ensino de alemão
e às atividades extraclasse. A Edem foge ao tradicional,
procurando apresentar os conteúdos à medida que a criança
demonstra estar preparada para recebê-los. O pH anuncia um
ensino de choque que desemboca em sucesso no vestibular.
Segundo colocado no ranking, o Colégio Cruzeiro é a
terceira mais antiga escola da cidade, com 139 anos de idade.
Foi fundado para atender os imigrantes alemães que começavam a
chegar ao país. A Deutsche Schule virou Colégio Humboldt em
1939 e, quatro anos mais tarde, com a entrada do Brasil na II
Guerra Mundial, ganhou o patriótico nome de Cruzeiro. O ensino
do alemão, que esteve banido até 1961, é hoje um dos maiores
chamarizes para os pais de seus 1.640 alunos. Desde a educação
infantil, são cinco aulas semanais dedicadas à língua de
Goethe. No prédio localizado nas imediações da Praça da Cruz
Vermelha, no Centro velho, a sinalização é inteiramente em
português e alemão. Os professores de todas as disciplinas
dominam o idioma, e a maioria tem cursos de especialização no
exterior. "No fim do curso, o aluno está apto a continuar seus
estudos na Alemanha", garante o diretor, Valdir Rasche.
Além de oferecer a opção de tempo integral para os
alunos até a 6ª série, o Cruzeiro tem a mais ampla oferta de
atividades extraclasse em toda a cidade. Além de cursos de
esporte, como natação, judô, ginástica olímpica e capoeira, há
balé, dança folclórica, aulas de canto, flauta, violão,
violino, orquestra e coral. "Nossa intenção é oferecer à
criança e ao jovem todas as possibilidades de conhecimentos
das ciências, das línguas, das artes. Queremos estimular a
sede de aprender. O bom aluno sabe fazer perguntas", diz o
vice-diretor, Waldomiro Dockhorn. As instalações são um tanto
apertadas. A sociedade mantenedora já adquiriu casarões das
vizinhanças e prevê uma expansão para breve. O vestibular não
é o centro das preocupações na Cruzeiro, mas a escola costuma
figurar entre as que mais aprovam no concurso da UFRJ.
André Valentim/Strana
 Arte na Edem:
escola alternativa não segue padrões tradicionais em
currículo e avaliação |
Se a linha pedagógica da Cruzeiro mescla elementos do
construtivismo em um sistema mais tradicional, a Edem, fundada
em 1970, se notabilizou por investir em uma concepção
totalmente diferente da educação infantil ao ensino médio. "A
Edem foge ao tradicionalismo. Os conteúdos abordados da 1ª à
4ª série não seguem a ordem adotada nas demais instituições,
que é uma ordem arbitrária", diz Judy Galper, diretora
pedagógica. Ela explica que mais importantes que o que se
ensina são a forma de ensinar e a pessoa que recebe esses
conhecimentos. "Se para receber determinados conteúdos um
aluno precisa memorizá-los de maneira mecânica, é preferível
deslocá-los para outra série", afirma Rosemary Freitas dos
Reis, coordenadora pedagógica do CA à 4ª série.
Até o sistema de avaliação da escola é diferente do
convencional. Nos primeiros anos da educação fundamental não
há prova. A partir da 3ª série, é introduzida a avaliação
individual e os alunos são estimulados a escrever relatórios
sobre o aprendizado. Da 5ª série em diante, entram em cena as
provas, que têm o mesmo peso de outros instrumentos de
avaliação. "Na Edem, não se tira 1 ponto de um aluno porque
ele deixou de cumprir determinada tarefa, até porque usamos
conceitos e não notas. Aqui os erros servem para que os
professores descubram o que pode ser mudado", explica Judy
Galper. A maior parte dos professores está na equipe há mais
de doze anos e recebeu formação especial dentro da própria
escola.
"No início, eu me assustava um pouco porque percebia
que o conteúdo era diferente", conta a produtora de eventos
Náfis de Oliveira Bressane, que tem quatro filhos no colégio.
"Depois percebi que as crianças estão recebendo ferramentas
para pensar e chegar aonde quiserem. Elas não estão sendo
preparadas para ser primeiro lugar no vestibular, mas serão
com certeza profissionais criativos em suas áreas de atuação",
diz. A diretora Judy Galper considera satisfatória a aprovação
da Edem no vestibular. Segundo ela, um terço da turma do 3º
ano passou para universidades públicas. Os demais alunos foram
para particulares. "Obtivemos o primeiro lugar em biologia. O
fato de os alunos não serem doutrinados a fazer testes não os
impede de ter bom desempenho nas provas dos concursos
externos", garante.
O desempenho da Edem no vestibular faria corar de
vergonha a direção do Colégio pH, o caçula do ranking da
pesquisa Veja Rio-Ipsos Marplan. Criado em 1992 a
partir de um bem-sucedido cursinho pré-vestibular, o pH hoje
reúne 1.900 alunos em três unidades: Tijuca, Barra e Botafogo.
Desde o início do ano, o colégio passou a ocupar o casarão da
Praia de Botafogo que era do Andrews. Neste ano, o número de
alunos cresceu 30%. É gente que se entusiasma com os
resultados no vestibular, fartamente anunciados pela
instituição nos jornais. No concurso da UFRJ, em 2001, o pH
foi a escola particular que aprovou o maior número de alunos
no Rio de Janeiro. Mas o professor de química Paulo Henrique
Martins, dono do colégio, acha que essa não é a única
motivação. "O pai que procura o pH quer ensino forte e
formação de bases morais", afirma ele, que incluiu no
currículo do ensino médio uma disciplina chamada "aula de
vida", sobre problemas relevantes para o adolescente, como
sexualidade e drogas.
Desde cedo o aluno do pH se acostuma a manter um ritmo
contínuo de estudos. "Enquanto em outras escolas o ritmo
aperta à medida que as provas se aproximam, aqui o tambor bate
acelerado o ano inteiro", descreve Rui Alves Gomes de Sá,
diretor de ensino. Neste ano o tambor do pH começou a tocar
também para as turmas das primeiras séries do curso
fundamental. Em vez da "tia", a tradicional professora regente
que acompanha a turma em todas as disciplinas, a garotada de
1ª a 4ª série tem cinco professoras que seguem planos de aula
criados pela coordenação geral. Nos fins de semana, como
acontece com os alunos das demais séries, recebem de dever de
casa os chamados pHs – baterias de exercícios que valem nota –
corrigidos por monitoras. "Mas é tudo muito lúdico", garante o
diretor de ensino.
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