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Perto ou longe?
Estudar próximo de casa é bom. Mas
esse não pode ser o único critério de escolha
Dauro Veras
Luciana Braga Mendes e Gustavo de Queiroz Teixeira
cursam a 2ª série do ensino médio no Colégio Santo Inácio. Os
dois freqüentam o turno da manhã, que começa às 7 horas.
Luciana acorda às 6h30, toma um suco e caminha dois minutos
até o portão da escola. Gustavo precisa se levantar às 5h20 e
encarar um percurso de quarenta minutos de ônibus da Tijuca
até Botafogo. O cotidiano dos dois adolescentes pode levar à
conclusão de que é sempre mais vantajoso estudar perto de
casa, mas este não deve ser o item de maior peso na balança na
hora de escolher o colégio. A tendência dos pais é mesmo
matricular os filhos em um colégio da vizinhança. No Colégio
Marista São José, sete em cada dez de seus 2.000 alunos moram
na Tijuca. Muitas famílias do bairro já estão com a quarta
geração de alunos na escola, que completa 100 anos em 2002. No
Santo Inácio, 37% dos 3.351 alunos residem em Botafogo. Se
forem contabilizados os vizinhos Copacabana, Lagoa, Flamengo e
Laranjeiras, a fatia sobe para 70%. Gustavo, que madruga para
chegar a tempo no Santo Inácio, vê vantagens na distância. "Às
vezes preciso ficar no colégio para uma reunião e tenho
preguiça de ir almoçar em casa. Assim, acabo participando
mais", diz ele, que é presidente do grêmio estudantil.
Para cada argumento favorável a morar longe há outros
tantos contrários. Para começar, evitam-se os gastos com
transporte escolar, que nem sempre é feito de acordo com as
normas de segurança (veja quadro abaixo). No primeiro
semestre, havia no município 778 veículos licenciados para
fazer transporte escolar, mas, segundo estimativas da
Superintendência Municipal de Transportes Urbanos, o número de
motoristas irregulares era pelo menos o dobro disso. Há outros
argumentos. "Até a criança ganhar mobilidade social, em torno
dos 10 anos, o ideal é que ela tenha referências próximas: a
casa dos pais, dos avós ou outro lugar ao qual ela possa
recorrer", diz a psicanalista Lydia de Vasconcellos,
integrante da Cooperativa de Trabalho de Psicólogos. Por ser
uma escola com grande interação com os moradores do bairro, a
participação de parentes dos estudantes no São José é intensa,
por meio de associações de ex-alunos e de pais e mestres. "A
gente trabalha muito a solidariedade entre os alunos: os que
moram longe, quando precisam ficar na escola, vão para a casa
dos colegas que moram perto", diz a vice-diretora educacional
Teresa Cristina Vianna Galhardo. A presidente da Comissão da
Criança e do Adolescente do Conselho Regional de Psicologia,
Clayse Moreira e Silva, alerta ainda para o fato de que a
distância casa-escola pode prejudicar o desempenho escolar. "O
desgaste de acordar muito cedo e fazer um longo percurso pode
deixar a criança muito cansada. Ela pode sentir fome fora de
hora e ficar agitada, com dificuldade para se concentrar."
Clayse ressalta, no entanto, que nenhum aspecto é determinante
de forma isolada. Tudo depende de como o aluno vai se
relacionar com as próprias experiências, quer estude perto ou
longe de casa.
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