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Poliglotas de berço
Aulas em línguas estrangeiras e
acesso a cursos no exterior fazem de escolas bilíngües
sonho de consumo
Anton Berden
André Valentim/Strana
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Antônio, o filho mais velho da empresária Adriana
Mattar, tinha 6 meses ao ser matriculado pela mãe na Escola
Britânica. Para garantir a vaga, Adriana desembolsou na
ocasião uma jóia de 3.500 dólares. Ao completar 3 anos, o
menino foi submetido a uma avaliação para ver como se
comportava em grupo. O mesmo aconteceu com o caçula, João. Os
garotos, hoje com 5 e 3 anos de idade, saem de casa, em São
Conrado, às 6h45 para atravessar a Zona Sul rumo à escola, em
Botafogo. Para Adriana, o esforço é válido. "Os cursos livres
de inglês não fazem com que o aluno efetivamente domine a
língua. Além disso, as crianças vão receber um bom ensino, com
noções claras de disciplina, independência e pontualidade",
diz. Ela destina 2.400 reais por mês para manter os dois
filhos em uma das instituições de ensino mais exclusivas do
Rio.
Mandar os filhos para as escolas bilíngües é o sonho de
consumo da classe média alta carioca. Com carga horária puxada
– a maioria adota o horário integral –, turmas de vinte
alunos, instalações caprichadas e muitas opções de atividade
extraclasse, essas escolas costumam oferecer 50% de sua
jornada diária em uma ou mais línguas estrangeiras. O preço
não é baixo. A American School (Escola Americana), na Gávea,
por exemplo, tem as mais caras mensalidades da cidade: 1.500
reais para os alunos do ensino médio. Ainda assim, é grande a
disputa pelas vagas. A prioridade para candidatos de origem
estrangeira faz com que os brasileiros enfrentem dificuldades
para conseguir lugar. O problema se agravou com a chegada de
empresas internacionais, o que fez aumentar o número de
estrangeiros no Rio. O Liceu Molière, em Laranjeiras, reserva
70% de suas vagas para filhos de franceses. Os brasileiros
disputam os 30% restantes com outros estrangeiros que vivem na
cidade.
A arquiteta Fátima Richa precisou de muita teimosia
para matricular a primeira de suas três filhas na Escola
Suíço-Brasileira, em Santa Teresa, que tem aulas em alemão ou
francês. Hoje ela paga mensalidades de 1.100 reais para as
meninas, de 11, 13 e 14 anos. As despesas aumentam com
material escolar, refeições, excursões e o salário do
motorista que sobe e desce de Santa Teresa várias vezes ao
dia. "As meninas vão absorver a cultura européia, aprender a
ter disciplina e respeito pela vida e pelos outros, valores
raros hoje em dia", diz Fátima, que pretende que as filhas
participem de intercâmbios na Suíça e prossigam os estudos na
Europa. Para atender à demanda, a Escola Suíço-Brasileira
abrirá uma nova unidade na Barra em 2002.
As escolas mais procuradas são as de língua inglesa. A
discrição é a tônica nas escolas Americana e Britânica,
característica que agrada em cheio a pais que, além de de
ensino de qualidade, buscam também um ambiente seguro e
reservado. Desde o início do semestre a Escola Americana tem
entre seus alunos Sasha, filha de Xuxa. Ocupando um vasto
terreno vizinho à favela da Rocinha, a Escola Americana não
tenta manter-se como uma ilha de fantasia isolada do resto do
mundo. Seus alunos são obrigados a participar de projetoss
sociais, denominados Community Service, com carga
horária de 100 horas. O programa é exigido para a obtenção do
International Baccalaureate (IB), certificado precioso para
quem pretende continuar os estudos no exterior.
As escolas bilíngües recebem, na maioria dos casos,
subsídios dos países que representam. A escola alemã
Corcovado, criada nos anos 60, ocupa o deslumbrante casarão
que abrigou a Embaixada da Alemanha no Rio. Para manter a
infra-estrutura e garantir a presença de quinze professores
alemães no corpo docente, a escola conta com recursos do
governo germânico. A caixinha também costuma ser reforçada por
doações de pais de alunos e de empresas. A Our Lady of Mercy,
primeira escola americana da cidade, localizada em Botafogo,
ganhou um centro de informática e modernizou sua biblioteca
graças a uma iniciativa dos pais dos alunos, que decidiram
pagar cotas extras. Na Escola Britânica, um fundo de doações
permitiu a aquisição de um casarão na Urca.
Para a garotada que ingressa cedo no universo bilíngüe,
a adaptação costuma ser tranqüila. Mais complicada é a vida de
quem pega o bonde andando no meio do curso: sem um bom domínio
do idioma estrangeiro, fica difícil acompanhar as aulas.
Algumas instituições tentam eliminar as diferenças com aulas
de apoio. Na americana Our Lady of Mercy, onde os alunos têm
as mais variadas nacionalidades, há cursos extras de português
para estrangeiros e inglês para brasileiros. Alice Pereira, 15
anos, aluna da Escola Americana, acredita que vai estar
preparada para enfrentar os problemas de um mundo globalizado.
"Acho normal viver alternando diferentes idiomas. Na escola, a
convivência entre brasileiros e estrangeiros é boa. Afinal,
todo mundo vive viajando", diz a jovem.
ONDE
ESTUDAR
Liceu Molière Rua Pereira da
Silva, 728
2205-0685; 2556-6296 fax: 2205-9014 www.home.openlink.com.br/provismoliere provismoliere@openlink.com.br
Escola Alemã Corcovado Rua
São Clemente, 388
2537-8811 fax: 2537-9411 Margret Möller,
diretora http://www.eac-rio.de/ eario@netgate.com.br
Escola Suíço-Brasileira Rio de
Janeiro Rua Almirante Alexandrino, 2405 2556-5746 fax: 2285-6255 Guido Casanova,
diretor http://www.esb-rj.com.br/ esbrj@openlink.com.br
Escola Americana Rio de
Janeiro Estrada da Gávea, 132
2512-9830 fax: 2259-4722 Emília Schweider,
diretora http://www.earj.com.br/ emilia@earj.com.br
Associação Britânica de Educação
(Escola Britânica) Rua Real Grandeza, 87 2539-2845 fax: 2539-9093 Claudia Ribeiro,
gerente de administração
Our Lady of Mercy Rua
Visconde de Caravelas, 48
2537-9065
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