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Edição Especial . 22 de maio de 2002 |
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As instalações são bastante modestas. Não há área verde, e seus 13 000 metros quadrados de terreno cercados de prédios na Rua Pernambuco, no bairro dos Funcionários, são flagrantemente acanhados para acomodar os 3 155 alunos. O que explica o desempenho do Santo Antônio, apontado como o melhor colégio de ensino fundamental da capital mineira pela pesquisa VEJA Belo Horizonte-Ipsos Marplan, é o excelente corpo pedagógico. "A eficiência de uma escola depende principalmente da qualidade das pessoas e do trabalho em equipe", define a diretora do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), Iza Locatelli. E esses atributos o colégio da Ordem Franciscana dos Frades Menores, fundado em 1950, possui de sobra. O processo de seleção dos professores é rigoroso. Depois de aprovados, os docentes passam a integrar uma equipe realmente diferenciada. Recebem salários entre os mais altos do mercado – em média, 3 100 reais mensais por uma jornada de 25 horas semanais. O valor é mais que o dobro da média salarial do total de escolas pesquisadas. Além de boa remuneração, os profissionais do Santo Antônio têm autonomia suficiente para exercitar plenamente sua criatividade e modificar o plano de trabalho de acordo com os resultados alcançados. Mais da metade do corpo docente é composta de professores com dedicação exclusiva, ou seja, trabalham apenas na instituição. A média de permanência no emprego é de mais de doze anos. "A dedicação exclusiva e a estabilidade da equipe ajudam a tornar nosso projeto pedagógico mais consistente", diz o coordenador-geral, Olavo Sérgio Campos, chamado pelos alunos de "Kafunga" por ter o mesmo nome do lendário goleiro do Atlético Mineiro. Todos os profissionais que ocupam cargo de coordenação no Santo Antônio, incluindo Kafunga, permanecem lecionando. Esse é um diferencial importante e raro, que permite à direção ter mais contato com o que acontece dentro da sala de aula.
Graças aos bons salários e às condições de trabalho, a escola pode manter educadores com sólida formação acadêmica. Um exemplo é a professora de história Carla Ferretti Santiago, que divide seu tempo entre a instituição e a Faculdade de História da PUC-MG. "O salário aqui é equivalente ao da faculdade", afirma Carla. "Além disso, é um colégio que confia no professor e lhe dá bastante autonomia." Em busca de melhores resultados, há quatro anos a instituição começou a implantar o conceito de sala-ambiente. Nesse sistema, são os alunos que mudam de sala a cada aula, não o professor. Isso permite que os docentes mantenham na sala livros para pesquisa, mapas, infográficos e outros recursos usados como instrumento de aprendizagem. As aulas de biologia, por exemplo, acontecem sempre no laboratório, que conta com computador, projetor e um microscópio para cada dois alunos. "A sala-ambiente exige um período de adaptação", explica o professor de biologia Nilo de Carvalho Serpa, há onze anos no Santo Antônio. "Depois que os alunos se acostumam, os resultados são animadores." Bastante ativo, o grêmio estudantil edita um jornal independente, sem nenhuma censura, que só é lido pela direção depois de impresso. Implacáveis, os estudantes dispõem de uma seção apenas para reclamações. De queixas quanto à limpeza dos banheiros e à falta de impressoras a protestos contra provas marcadas para a sexta-feira, tudo é publicado. O grêmio também organiza shows de música nos intervalos e coordena o trabalho voluntário dos alunos em creches, asilos e hospitais. "Nosso contato com a direção do colégio é bem aberto", diz o presidente do grêmio, Samuel Morgan, 17 anos. Um exemplo disso é a permissão para que os alunos do ensino médio saiam livremente da escola durante o intervalo, caso raro em Belo Horizonte. "O grande diferencial do Santo Antônio é não tratar os alunos com paternalismo", define o coordenador Jorge Cascardo. "Aqui, o jovem aprende a ter responsabilidade." Pela internet, os estudantes podem entrar em contato com os professores e tirar dúvidas. Os pais têm acesso on-line a notas, freqüência e relatórios de desempenho. Atividades como teatro, coral, dança e xadrez são oferecidas sem nenhum custo adicional. O colégio mantém ainda um curso noturno totalmente gratuito para 300 estudantes, a partir da 5ª série do ensino fundamental. Os requisitos para ingressar no curso são trabalhar e passar por uma análise socioeconômica. O Santo Antônio só não pode ser chamado de ideal para qualquer aluno porque uma instituição assim não existe. Muitos estudantes, para render o máximo, podem depender da ênfase em aspectos que não são a prioridade da escola, como as atividades esportivas, por exemplo. O filtro para entrar nesse colégio é difícil de vencer em proporção parecida com as qualidades da escola. No concorrido processo seletivo, cada vaga é disputada, em média, por quatro candidatos. Passar de ano também não é tarefa simples. "É um colégio bem puxado", diz Fernanda Gomes de Magalhães, 14 anos, que cursa a 8ª série do ensino fundamental. "Estudo quatro horas por dia em casa para acompanhar o ritmo." Mesmo com a recuperação paralela, que permite que os estudantes abaixo da média melhorem seu desempenho, em algumas séries o índice de reprovação chega a 10% do total de matriculados. Como a procura é enorme, e o espaço restrito, o número de alunos por sala ultrapassa o ideal. Na 1ª série, por exemplo, as classes têm 35 crianças, dez a mais do que os especialistas consideram adequado. A qualidade do trabalho acadêmico, entretanto, compensa essa deficiência. As informações nas aulas são dadas com os contextos em que se inserem, os alunos desenvolvem projetos multidisciplinares e o material didático é composto principalmente de livros – apostilas prontas não têm vez. As provas são formuladas somente com questões abertas, do tipo que obriga o aluno a desenvolver o raciocínio.
Mesmo não tendo sido eleita a melhor escola de ensino médio de Belo Horizonte, o Santo Antônio tem números para mostrar que reflete a qualidade da base que oferece. Nos vestibulares de 2002, de 266 alunos inscritos em cursos diversos, 203 foram aprovados – índice de aprovação de 76,3%. Primeiro colocado geral no vestibular da UFMG, o mais disputado de Minas Gerais, Rodrigo de Oliveira Machado estudou no Santo Antônio a partir da 5ª série. Na primeira etapa, alcançou 119 dos 120 pontos possíveis. Guitarrista de uma banda que criou com amigos e praticante de futebol e basquete, fica bem distante do perfil cê-dê-efe que se espera de um primeiro lugar. "Acho que o colégio é responsável por 60% de meu desempenho", acredita Rodrigo. "Fico com os outros 40%." A futura jornalista Ana Bizzotto, 18 anos, primeira colocada no vestibular de comunicação da UFMG, ressalta a importância do ensino fundamental nos resultados obtidos. "Se você não tem boa base, não consegue aproveitar bem o ensino médio", diz. Aluna do Santo Antônio desde os 10 anos, Ana acredita ter tido uma formação completa no colégio. "Além das matérias, aqui aprendi a trabalhar em grupo e a ter iniciativa e consciência social." Quando querem provocar os amigos, jovens de outras escolas costumam dizer que os do Santo Antônio são nerds, que o colégio massacra seus alunos. Indiferentes às críticas, os que estudam no Santo Antônio estão convictos de estar na melhor escola de Belo Horizonte. Segundo os números, eles têm razão.
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