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BILÍNGÜES
Mundo à parte
Brasileiros recorrem a colégios muito especiais em
busca de fluência em idiomas e educação
globalizada
Denise
Silva
Nélio Rodrigues
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Crianças na biblioteca da Fundação Torino: opção de
ensino internacional |
Criadas
originalmente para atender filhos de estrangeiros de passagem pelo
país, as escolas bilíngües acabaram se tornando uma opção muito
procurada por famílias dispostas a pagar caro para que seus filhos
adquiram fluência em idiomas e estejam habilitados a completar os
estudos no exterior. Hoje, os brasileiros já representam a grande
maioria das matrículas desses colégios.
Na
Escola Americana de Belo Horizonte, fundada em 1956, 70% dos 142
estudantes são brasileiros. Eles vivem em um mundo à parte. O
calendário é igual ao dos EUA. O ano letivo começa em agosto e as
crianças são alfabetizadas simultaneamente em inglês e português. No
ensino fundamental, com exceção de história, geografia e português,
todas as disciplinas são ministradas em inglês. As turmas são
reduzidas, com no máximo dezoito alunos. Manter um filho na Escola
Americana custa caro. As mensalidades variam entre 1 313 e 1 513
reais, quase o triplo do que as mais renomadas escolas de Belo
Horizonte. O colégio só aceita novos alunos até a 7ª série. "Os
candidatos devem ter domínio de inglês", diz o vice-diretor, Gary
Walker.
Durante
36 anos, a Escola Americana foi a única opção de escola
internacional em Belo Horizonte. A situação mudou apenas em 1992,
quando a Fundação Torino, criada em 1974 para atender apenas filhos
de executivos do grupo Fiat, abriu suas portas às crianças
brasileiras. A procura foi grande, e elas rapidamente se tornaram
maioria – atualmente ficam com quase 80% das 850 vagas. As
mensalidades variam de 418 a 605 reais. A infra-estrutura é
invejável. Todas as salas possuem TV e vídeo e os laboratórios são
muito bem equipados. A carga horária é elevada – de 35 a quarenta
horas semanais no fundamental. Além do italiano, idioma no qual é
lecionada a maior parte das matérias, os alunos aprendem inglês e
espanhol. No ensino médio, o estudante tem três opções: o Liceo
(três anos de duração), o curso de especialização em Técnicas
Comerciais ou o de especialização em Técnicas de Turismo. Os dois
últimos têm quatro anos de duração. Independentemente do escolhido,
os alunos saem aptos a ingressar em qualquer universidade européia.
"Preparamos nossos alunos para o mundo globalizado", diz Fausto
Bolzoni, diretor da instituição.
Novos
estudantes são aceitos da educação infantil à 1ª série do ensino
médio e os testes de seleção são concorridos. No fim do ano passado
foram 173 inscritos e 111 selecionados. Como o colégio segue o
calendário europeu, com início das aulas em agosto, os candidatos
aprovados participam de um curso de fevereiro a julho, no qual
aprendem intensivamente a língua italiana.
Mas
será que vale a pena matricular o filho em um colégio bilíngüe? "O
estudo de línguas estrangeiras é importante, leva o aluno a entrar
em contato com uma cultura diferente", afirma Ceres Prado,
professora da Faculdade de Educação da UFMG. "O que preocupa é o
fato de alguns pais colocarem seus filhos em escolas estrangeiras
apenas por uma questão de status." Outro problema apontado pelos
especialistas vale para quem não pretende prosseguir os estudos no
exterior, mas cursar uma faculdade brasileira. Como as matérias do
currículo brasileiro não têm o mesmo peso nessas instituições, o
candidato pode enfrentar problemas no vestibular. "Tive dificuldade
em química", admite o ex-aluno Marcelo Gontijo, que prestou
vestibular para engenharia elétrica.
Por
outro lado, não há dúvida que as bilíngües são ótima opção para quem
pretende fazer curso superior fora do país. "Meus filhos receberam
atenção individualizada, falam inglês com perfeição e possuem boa
base para estudar no exterior", aprova Rodrigo Damásio, pai de dois
jovens que cursaram a Escola Americana e hoje estudam nos Estados
Unidos.
TOME
NOTA
Se a intenção
do seu filho é prosseguir os estudos em uma universidade no
Brasil, talvez uma escola bilíngüe não seja a melhor opção.
Embora ofereçam um ensino de ótima qualidade, essas
instituições não priorizam a preparação para os vestibulares
nacionais.
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