O desenvolvimento de sistemas de informação
computadorizados tem sido feito, de maneira
geral, com o objetivo de atender à demanda
pela “automação” de
algumas atividades nas organizações.
Este foco de aplicação de TI nem
sempre produz os resultados desejados em termos
de melhoria da produtividade e da qualidade
nos processos do negócio da organização.
Uma das facetas mais conhecidas desta questão
é a chamada “crise do software”,
que ainda perdura apesar de todos os recentes
avanços tecnológicos.
O que motiva essa insatisfação
dos ambientes organizacionais com as soluções
de TI, que na maioria das vezes são demasiado
caras e/ou não atendem às reais
necessidades das organizações?
É importante observar, que qualquer adoção
de informatização implica em mudança
em pelo menos algum processo da organização.
Caso isto não tenha sido levado em conta
durante a análise e desenvolvimento da
solução de TI, podem ocorrer inadequações
e decepções que só reforçam
as estatísticas da crise do software.
Na verdade, as próprias organizações
têm tido muita dificuldade de lidar com
o termo “processo”, o que gera uma
grande confusão conceitual. Em certas
situações, coisas amplas e complexas
são chamadas de “processos”
ou até de “macro-processos”;
em outras, coisas simples são chamadas
de “processos”, quando poderiam
ser utilizados termos mais específicos
como “atividades” ou “tarefas”.
Também são comuns afirmações
do tipo: “a organização
passa por um ‘processo’ de adaptação
a uma nova situação”. Diante
de tanta ambigüidade a respeito da definição
e uso do termo ‘processo’, e da
necessidade de aplicar TI justamente nele, é
vital criar um referencial conceitual para o
seu entendimento.
Define-se Processo de Trabalho como algo constituído
por um conjunto de atividades que devem ser
executadas para produzir pelo menos um resultado
identificável e utilizável por
um ente denominado cliente do processo de trabalho.
O Processo de Trabalho tem fronteiras claramente
identificadas pelas suas entradas e saídas.
Cada saída é denominada de um
resultado do processo de trabalho. Cada entrada
é denominada de um acionamento do processo
de trabalho.
Para se identificar claramente um Processo de
Trabalho, é preciso caracterizar, em
primeiro lugar, o que se espera como seu resultado,
isto é, quais são de fato os seus
produtos finais. A partir disso, é possível
investigar e obter os acionamentos necessários
para iniciar o processo, isto é, quem
aciona e o que é fornecido como entrada,
possibilitando sua execução e
a conseqüente geração de
resultado.
Esses mesmos conceitos devem ser aplicados também
para as atividades que constituem o Processo
de Trabalho, identificando para cada atividade
os seus respectivos resultados e acionamentos.
Um método, composto de três fases,
pode ser estabelecido para aplicar Processo
de Trabalho na concepção de soluções
de TI:
Na primeira fase, deve ser alcançado
um bom entendimento do contexto organizacional
do problema a ser resolvido, através
da modelagem dos Processos de Trabalho pertinentes.
Durante a segunda fase devem ser propostas e
realizadas melhorias nos Processos de Trabalho,
que independam de mudanças na utilização
de TI.
Apenas na terceira fase é que as melhorias
habilitadas pela TI devem ser propostas, eventualmente
aceitas e implementadas.
Este tipo de método tende a gerar soluções
de TI inteiramente alinhadas com os negócios
da organização, uma vez que a
função dos Processos de Trabalho
deve ser exatamente a de operacionalizar tais
negócios.
Na área de pesquisa em Informática,
e especialmente na abordagem geral da MDA (Model
Driven Architecture), o conceito de Processo
de Trabalho pode ser utilizado para construir
modelos de negócio que sejam mais rigorosos
do que os atualmente existentes, na camada CIM
(Computer Independent Model), de onde são
extraídos os requisitos dos sistemas
de TI que alimentam as especificações
da camada PIM (Platform Independent Model).
A fim de validar as experiências teóricas
já realizadas em cursos e exercícios
acadêmicos, estão atualmente em
andamento no NCE – no âmbito do
projeto IPÊ (Integração
para Planejamento Estratégico) –
experimentações práticas
de diretrizes de modelagem e tratamento com
Processos de Trabalho, as quais devem chegar
até o projeto e implantação
de soluções de TI. A analista
Irene Madeira é a responsável
por este projeto no âmbito da Área
de Sistemas de Informação (ASI)
do NCE. Desta maneira, pretende-se o estabelecimento
de um Processo de Trabalho para o próprio
profissional que utilize este conceito para
analisar e propor soluções de
TI. O desenvolvimento de tal processo poderá
– e deverá – ensejar a criação
de diretrizes comportamentais e gerenciais,
e ainda ferramentas computacionais para a melhoria
da qualidade e da produtividade dos projetos
de TI.
Com a finalidade de atingir esses objetivos,
e de reunir algumas iniciativas nesta linha
de pesquisa dentro do NCE, está sendo
criado o Laboratório de Informatização
de Processos das Organizações
(LIPO), sob a coordenação do professor
Amauri Marques da Cunha. A idéia é
que o LIPO seja um laboratório parcialmente
virtual, onde trabalhos de pesquisa aplicada
direcionada para a confecção de
teses de mestrado e projetos de final de curso
de graduação possam conviver com
experimentações práticas
de projetos reais, como o Projeto IPÊ
do NCE e projetos de outras organizações
e grupos que já manifestaram a intenção
de participar.
Mais informações a respeito do
LIPO e de alguns resultados preliminares já
alcançados, podem ser obtidos através
do e-mail: conceito@nce.ufrj.br.
|